Cada um destes julgados estaria sob a jurisdição de um juíz, que nele representaria os interesses do Rei, quando na antiga Terra de Sousa e mais tarde no Termo de Ferreira essa jurisdição estava nas mãos da Nobreza.
A tendência, como se vê, era para uma crescente centralização, e os dois julgados criados em 1258 acabaram por ser integrados no chamado Termo do Porto e na sua comarca e provedoria, em 1385, como recompensa pelo auxílio que os homens-bons da cidade deram a D. João I durante a crise que antecedeu a sua subida ao trono.
O “Brasileiro” em Raimonda
Durante a Época Moderna, por volta do século XVII, deu-se um fenómeno importante em Raimonda, que se estendeu um pouco para o resto do concelho: a emigração para o Brasil.
Fenómeno que foi fundamental para a economia da região, principalmente no momento em que as remessas dos emigrantes, e eles próprios, já enriquecidos, começaram a voltar á sua terra. As marcas do “brasileiro” e do seu regresso permanecem um pouco por toda a Freguesia. Não é por acaso que já Pinho Leal, em referência ao brasileiro”, dizia que Raimonda era a mais rica freguesia do concelho, e que, localmente, a mesma é conhecida por “terra do dinheiro”. É antes uma realidade concreta, provocada pela concentração do capital “brasileiro” na Freguesia. Um “brasileiro” que só se sentia completo quando, depois de uma vida inteira a mourejar, e a verter lágrimas, suor e sangue, voltava á sua terra para reconstruir a antiga casa paterna ou para construir prédio novo no “verde canto da aldeia”. Como dizia José Augusto Vieira, na descrição que fazia de Paços de Ferreira em “O Minho Pitoresco”.
Em Raimonda, as marcas do “brasileiro” ficaram patentes nos grandes palacetes, de cores vivas, os muros e portões de ferro com que eram vedadas as suas propriedades. A bonita Igreja Paroquial é no entanto o maior “marco” da presença e da importância do “brasileiro” no desenvolvimento económico da Freguesia. Inaugurada em 1710, a sua construção só foi possível graças ao dinheiro de um desses tais “brasileiros” tão devotos á sua terra. Que no seu acto simbolizou o amor inesquecível á terra-mãe.
Património Rico
É da maior importância a preservação do património histórico de S. Pedro da Raimonda.
A igreja paroquial, inaugurada em 1710, é ponto obrigatório de visita, pelo que representa da mais artística talha de todo o concelho e até do norte do país. É também uma informação de fé e de força económica dos antepassados da terra.
Edifício elegante e bem proporcionado, possui uma capela-mor muito rica, de estilo renascença-barroco. Realce também para os altares laterais, para o retábulo do altar-mor, para as pinturas de motivos bíblicos nas paredes e os caixotões do tecto.
A mais antiga pintura existente em Portugal sobre o Sagrado Coração de Jesus, segundo o Padre Alexandrino Brochado, encontra-se na Igreja Paroquial de Raimonda.
Os quadros que decoram as paredes da capela-mor são dedicados a Santo Onório, Santo Agostinho e São Cristovão, de um lado, e São Dâmaso, São Jerónimo e São Lucas, do outro lado.
Na frontaria externa, há uma bonita imagem gótica de São Pedro, que pertencia á igreja anterior, e que, por ser do mesmo estilo e época, se pode relacionar com a existente em Ferreira e Carvalhosa.
Todo este conjunto faz da igreja paroquial de Raimonda – nomeadamente da sua capela – mor – uma verdadeira preciosidade artística, difícil de encontrar noutra Paróquia rural da dimensão de Raimonda.
A igreja antiga foi demolida, por volta de 1700, por ser considerada demasiado exígua. Estava situada no lugar onde hoje se situa o palheiro da Casa da Baptista, actualmente propriedade dos Padres Beneditinos.
Esta Ermida de São Pedro de Rosende, que tinha dois sinos e cinco altares (o Altar-Mor e quatro colaterais), foi erigida em meados do século XIII, sob a designação de “Heremiti Sancti Petri de Gondesende”. Não tardou a alcançar a categoria de Igreja Baptismal, sufragânea da de São Tiago de Lustosa.
A Capela de Santo Amaro, situada no lugar com o mesmo nome, junto à corrente inicial do rio Ferreira, foi construída em 1632.
O seu altar é modesto, com santuário envidraçado. A sua maior originalidade é uma empena, com cruz flordelisada. Construída inicialmente em 1717, foi reedificada em 1894, ampliada em 1942 e restaurada em 1979 (substituição do tecto).
A Capela de Santo Cristo está situado no cemitério. Pensa-se que a sua construção terminou em 1899. Tem uma cuidada cornija de granito lavrada e um altar interior muito vulgar.
Destaque para uma lápide branca de mármore com a seguinte inscrição: “Qui sperant in te in aeternum exultabant” (Os que em ti esperam, gozarão alegrias eternas). Lateralmente, dois motivos: um coração e uma âncora a terminar em cruz, cujo significado não se conhece.
A Capela da Virgem Maria, vulgo Nossa Senhora do Desterro, está situada no lugar de Parada e é também conhecida por Capela de Jesus, Maria e José. Foi aberta ao culto em 1721, conforme se lê no portal (A+7XXI). Documentos de 1758 referem já a sua existência, numa altura que Gualter Martins Leão era o seu zelador.
O altar-mor, original, é muito valioso sob o ponto de vista artístico: talha dourada, colunas com torcidas, cornija artística, tendo por remates figuras de anjos.
A imagem principal era a da Nossa Senhora do desterro (Nossa Senhora com o menino a caminho do desterro).
Em Visitação á Capela, nos finais do século, o Dr. José da Glória Camelo, Abade de São Martinho de Cavalões, considerou-a “perfeita e bem aceada em todo o material, tendo muito bom retábulo e tecto em madeira”.
A Capela de Nossa Senhora do Alívio, anexa á Casa de Rosende, foi construída em 1884 por iniciativa de D. Engrácia Ferreira Neto Freire de Vasconcelos, proprietária do Solar anexo. Durante muitos anos, ia expressamente um sacerdote de Freamunde, o Padre Florêncio, celebrar missa nesta Capela.
Do maior interesse artístico é também o Cemitério de Raimonda, muito rico e demonstrador da importância do capital “brasileiro” dos séculos XVIII e XIX. De realçar a Capela-Jazigo da Fidalga de Rosende, um edifício com frontal muito trabalhado, todo em mármore, riquíssimo.
No interior, uma decoração com anjos em coroa. Ao alto, pode ler-se: "1909 – Jazigo da Família Engrácia F. Netto M. Freire”.
Do conjunto arquitectónico edificado, destaque ainda para a Casa da Torre, a Casa de Rosende, a Casa da Velha, a Casa do Reguengo, a Casa de Santo António e uma outra, com capela, no lugar do Outeiro.
São casas e solares que mostram a pujança económica e o gosto artístico das famílias senhoriais da freguesia durante os séculos XVII a XIX.
Aliado a este património possível de fruição, um outro, ligado ás tradições, ao traje á música e á dança de índole folclórica, tem sido revivificado pelo dinamismo e a arte das gentes da freguesia.
No seu conjunto, a paisagem, o património edificado, o que resta e se conserva ainda de antigos utensílios agrícolas e sobretudo a arte religiosa, rica e esplendorosa, bem merecem uma visita repousante e demorada.